2Pedro 1.20; 3.15,16
A Bíblia é um livro singular, pois se
trata da mente de Deus falada nas palavras dos homens. O pastor Osiel Gomes,
cita FEE; STUART, 2001, que disse: “A
Bíblia é a Palavra de Deus dada nas palavras de pessoas na história. É esta
natureza dupla da Bíblia que exige nossa parte na tarefa da interpretação”.
Raimundo de Oliveira, em seu livro
“Como estudar e interpretar a Bíblia”, menciona também o autor supracitado, em
seu livro “Entendes tu o que lês?”, onde diz: “o problema da interpretação das Escrituras é que um grande número de
pregadores e professores da Bíblia cavam tanto nas suas pesquisas bíblicas, que
tendem a enlamear as águas, tornando obscuro o que nos era claro na Bíblia”.
A Bíblia não é apenas um livro, mas
uma coleção de livros, envolvendo cerca de quarenta autores ao longo de mil e
seiscentos anos, escrito em três idiomas (hebraico, grego e partes em aramaico).
É uma obra multicultural. Portanto, não é nada simples nem mesmo fácil
interpretar tudo isso, sem ajuda de técnicas e métodos para uma clara e melhor
compreensão do texto sagrado. Ainda mais, devemos sempre tomar em conta, que
ninguém poderá interpretar a Bíblia sem a ajuda do Espírito Santo (1Co 2.10).
HERMENÊUTICA E EXEGESE
Parece que sempre temos dificuldade
de entender a diferença entre exegese e hermenêutica, não é mesmo? Osiel diz: “Quando você procura o significado de uma
palavra, querendo saber o que realmente ela queria dizer para as pessoas no
tempo em que foi escrita, você está fazendo exegese. As regras, formas ou
métodos como essa análise é feita podem se chamar Hermenêutica. A Hermenêutica
é o que ajuda a entender melhor esses princípios de interpretação”. Continua:
“A exegese busca a interpretação de um texto, já a hermenêutica estuda as
regras, as bases para que o texto se torne compreensivo”. D. A. Carson nos
diz o seguinte: “Diria que a exegese
relaciona-se à interpretação de um texto, enquanto a hermenêutica diz respeito
à natureza do processo interpretativo. A exegese termina dizendo: “Esta
passagem significa isto ou aquilo”; a hermenêutica conclui assim: “Este
processo interpretativo constitui-se das seguintes técnicas e pressuposições”.
Carson diz que as duas estão relacionadas, porém, segundo ele, a hermenêutica
nunca é um fim em si mesma: ela serve a exegese.
SIGNIFICADO DA PALAVRA HERMENÊUTICA
Se pode entender a palavra
“hermenêutica” como a arte de interpretar, ou de interpretação. É por meio
dessa ciência que entendemos os princípios, leis e métodos de interpretação. É
de comum acordo de todos os estudiosos do tema, que esse termo foi usado pela
primeira vez por Platão, porém, como um termo técnico. Ele o empregou no
sentido de explicar e interpretar escritos antigos e atuais, que sejam de
natureza espiritual, científica e do direito. Aqui falamos em Hermenêutica em
sentido geral.
Osiel Gomes, em seu livro “Aplicando
Bem a Palavra”, cita Ulrich J. Kortner que define hermenêutica da seguinte
maneira:
“A hermenêutica é o estudo da
compreensão. Compreender algo, no entanto, significa compreendê-lo como
resposta a uma pergunta. Enquanto não conhecemos e compreendemos a pergunta,
aquilo que estamos procurando entender permanece incompreendido. A hermenêutica
faz-se necessária, pois a compreensão não é autoexplicativa... (KORTNER, 2009,
p. 10).
A palavra é originaria do termo grego
hermeneuein, que tem como significado “explicar”,
ou “interpretar”. Na Bíblia é usado
em João 1.42; 9.7; Hebreus 7.2; Lucas 24.27), onde todas as referências diz
respeito a explicação de algum termo, ou sentido da palavra.
Hermes, é o nome dado ao deus grego
considerado porta-voz ou intérprete dos outros deuses. No livro de Atos dos
Apóstolos 14.12, na NVI lemos o seguinte: “A
Barnabé chamaram Zeus e a Paulo, Hermes, porque era ele quem trazia a palavra”.
Além da hermenêutica no sentido geral
como arte de interpretar os fatos da história, da profecia, da poesia e das
leis, há ainda outro tipo de hermenêutica, que chamamos de “hermenêutica
sagrada”, ligada essencialmente à interpretação, compreensão e explicação da
Palavra de Deus
Alguns ainda dividem a hermenêutica
da seguinte forma:
a.
A
geral. Para interpretar qualquer obra.
b.
Especial.
Aplica-se às obras como história, poesia, profecia.
c.
Sacra.
O estudo das escrituras como divinamente inspirada por Deus (2Tm 3.16).
A NECESSIDADE DO ESTUDO
DA HERMENÊUTICA SAGRADA
Como já sabemos, a hermenêutica tem
como finalidade principal indicar o meio pelo qual é possível determinar as
diferenças de pensamentos e atitudes entre o autor duma obra e o leitor que a
lê. Para o estudante da Bíblia, isso é ainda mais sério, pois ele não se prende
apenas em saber o que homens como Moisés, João, Paulo, escreveram, mas saber
que neles estava a ação direta do Espírito Santo de Deus (2Pe 1.21).
Alguém pode perguntar: Por que
preciso da hermenêutica para estudar a Bíblia? Não basta ler a Bíblia? Osiel
Gomes disse que não é difícil de responder essa pergunta, pois a necessidade do
uso da ciência para o texto sagrado resulta no próprio pecado do homem. Disse
ele: “ele não tem uma mente saudável, e sofre influência desde mundo, por isso
precisa ter a mente de Cristo para que faça uma boa interpretação” (1Co 2.16).
Ele ainda nos diz que não há uma uniformidade de pensamento nos homens, por
isso a necessidade da hermenêutica, que nos ajudará na harmonização da
interpretação da Palavra de Deus.
O apóstolo Paulo disse que devemos
manejar bem a Palavra da Verdade (2Tm 2.15). Quando o homem de Deus, seja ele
pregador, professor da Escola Dominical, pastor, ou um presbítero, que no dizer
de Paulo “...trabalha na Palavra e na
doutrina” (1Tm 5.17), devem conhecer as regras de interpretação podendo
assim combater as heresias, que nascem exatamente na má interpretação da
Palavra (1Pe 3.15).
É impossível em um só estudo falar
com maior profundidade sobre tão relevante tema. Não comentaremos sobre os
princípios de hermenêutica entre os vários grupos de Judeus, como os Palestinos,
Alexandrinos, Caraítas (filhos da leitura), Cabalistas e Espanhóis, e como eles
interpretavam a Lei de Moisés. Vamos seguir adiante, diretamente ao
hermenêutica na Igreja Cristã.
1.
Período da Patrística. Nesse período a hermenêutica dependia de três centros de atividades da
igreja: Alexandria, Antioquia e Ocidental.
a. A escola de Alexandria. (Egito) Essa Escola data
do século III depois de Cristo. Havia uma mescla entre a filosofia e a
religião, afetando, portanto, a interpretação bíblica. Nessa escola aparece, nome importantes como Clemente de Alexandria
e Orígenes. As fontes que eles recorriam eram os filósofos pagãos, como Homero
e Filo.
Esses homens criam na Bíblia como inspirada por Deus, mas entendiam que
alguns métodos deveriam ser aplicados no entendimento do texto para que a
comunicação fosse compreensível. Achavam que a compreensão do texto deveria ser
feito no método alegórico, desprezando o literal. Clemente chegou a dizer que o
Antigo Testamento, somente poderia ser entendido alegoricamente.
Orígenes, que era superior a Clemente no saber, dizia que a Bíblia é o
meio de salvação do homem, pois assim como o corpo era formado de três partes
(corpo, alma e espírito), as escrituras também era tríplice em seu sentido
(literal, moral e místico). Esse era um posicionamento platônico, que
acreditava que o homem era um ser tríplice.
b. A Escola de Antioquia. (Síria) Essa Escola foi
fundada por Doroteu e Lúcio. Há alguns estudiosos que afirmam que foi Deodoro
que tenha fundado essa Escola em 378 de nossa era. Na verdade, quem se destacou
nesse tempo, foram dois discípulos de Deodoro: Teodoro de Mopsuéstia e João
Crisóstomo.
Teodoro se destacou como como um intérprete liberal, intelectual e
crítico da Palavra de Deus, mas Crisóstomo, pelo dogmatismo, espiritualidade e
praticidade da Palavra. Recebeu o apelido de “Boca de Ouro”, pela eloquência de
sua oratória. Tanto ele, como Teodoro, contribuíram muito para a interpretação
séria das sagradas Escrituras, pois deram grande valor a exegese científica,
buscando a compreensão do sentido original do texto, procurando tirar proveito
do que diz a Palavra de Deus. Eles desprezaram o método alegórico na
interpretação.
c. A Escola do Ocidente. Era um método que se pode chamar de
“eclético”, pois havia uma mescla da Escola de Alexandria no Egito, com
Antioquia na Síria. Os nomes que se destacaram no Ocidente foram: Ambrósio, Jerônimo,
Hilário e Agostinho. Jeronimo sobressaiu pela sua tradução da Bíblia, a
Vulgata. Outro nome a ser destacado é o de Agostinho. Segundo a história ele
não foi um grande exegeta, mas, foi reconhecido como aquele que sistematizou o
conteúdo Bíblico e foi um grande intérprete das Escrituras.
Agostinho dizia que o intérprete da Bíblia, deve estar preparado em todos
os aspectos, como: filológico, crítico ou histórico, e sobretudo deve amar o
autor da Palavra. Para ele o literal deve fundamentar o alegórico.
2.
Método da interpretação bíblica na
idade média. (Séculos V a XV) Conhecido como
“período das trevas”, pois o espírito de ignorância imperava. Quanto a
interpretação bíblica, prevalecia o método agostiniano: Literal, tropológico, alegórico, analógico. Nesse tempo a Escritura
era interpretada de modo místico, pois era considerada um livro de grandes
mistérios e muito complicado. Os intérpretes da Bíblia eram desprezados. A única
Bíblia usada era a Vulgata de Jerônimo.
Na Idade Média a interpretação ficou totalmente presa à Igreja. Mesmo que
exaltassem os escritos dos pais da Igreja, quando tais artigos não fossem de
acordo com a Bíblia, a voz maior era da Igreja, e não da Bíblia. Não surgiu
nenhum princípio novo, nem uma exegese saudável na Idade Média, mas prevaleceu
sempre a tradição da Igreja. Um dos nomes mais famosos nesse tempo foi o de
Tomás de Aquino, porém, foi o de Nicolau de Lira o de maior repercussão, como
escreve Osiel Gomes:
“Pois ele
rompeu com os pressupostos do método agostiniano, valorizando o sentido literal
e místico na interpretação do texto Bíblico. Ele dava importância aos originais bíblicos, e o
místico só poderia ser usado na demonstração da doutrina, pois ele “assassina”
o texto e sua interpretação original”.
Segundo o
pastor Osiel, esse posicionamento de Nicolau foi de suma importância, pois
incendiaria o coração Lutero, que posteriormente estouraria a Reforma
Protestante.
3.
O método de interpretação da Bíblia
na Reforma. Foi o período renascentista, (meados
do século XIV ao final do século XVI) que preparou a Europa e o mundo para a
Reforma Protestante, chamou a atenção da cristandade de então para a
necessidade de se estudar as Escrituras recorrendo aos originais, como forma de
se achar o verdadeiro significado. Foram tidos como apóstolos dessa época áurea
da hermenêutica, Johann Reuchlin e Desiderio Erasmo. Ambos muitos contribuíram
para o estudo e pesquisa das Sagradas Escrituras. Reuchlin publicou uma
gramática e um dicionário da língua hebraica; enquanto Erasmo escreveu a
primeira edição crítica do Novo Testamento Grego. O quádruplo sentido da Bíblia
ensinado por Agostinho foi paulatinamente abandonado, para dar lugar ao
princípio de que a Bíblia deve ser interpretada apenas num sentido.
A fé inabalável dos reformadores, dizia
que a Bíblia era a inspirada Palavra de Deus. Contra a infalibilidade dos
concílios, eles estabeleceram a infalibilidade das Sagradas Escrituras. A
posição dos reformadores tinham a seguinte posição: Não é a Igreja que
determina o que as Escrituras ensinam; pelo contrário, são as Escrituras que
determinam o que a Igreja deve ensinar.
O
reformador Martinho Lutero salientou a necessidade de se considerar o contexto
e as circunstâncias históricas de cada livro; exigiu que o intérprete da Bíblia
tivesse intuição espiritual e fé. Teve a pretensão de encontrar Cristo em Toda
a Escritura. Seu fiel aliado, Filipe Melanchton seguiu o princípio de que as
Escrituras, devem ser entendidas primeiramente gramaticalmente, para depois ser
entendida teologicamente, e que elas têm apenas um simples e determinado
sentido.
João Calvino, tido como o maior exegeta da Reforma, considera que “o
primeiro dever do intérprete é permitir que o autor diga o que realmente diz,
ao invés de lhe atribuir o que pensa que devia ser”.
4. O período confessional. (PÓS-REFORMA) Não poderia deixar de abordar esse tempo pós-reforma, onde o perigo rondou
de perto a verdadeira hermenêutica. Foi um tempo de grandes controvérsias
doutrinárias. Os protestantes, que até então estavam coesos na doutrina e na
interpretação da Bíblia, começaram a se dividir em várias facções, enquanto a exegese
se tornou serva da dogmática, degenerando-se em mera busca de textos-provas.
Quer dizer: estudava-se as Escrituras apenas buscando apoio às declarações de
fé das confissões da época.
Direi como o escritor aos Hebreus,
faltar-me-ia tempo, para falar sore todos os intérpretes que se levantaram
nesse tempo e posteriores, como os Socinianos, Coccejus, os pietistas. Na
hermenêutica moderna, do século XIX até nós, como os liberais, os
neo-ortodoxos, a nova hermenêutica etc. Para o estudante interessado em se
aprofundar mais, será aconselhável uma bibliografia mais ampla no assunto,
como: Os perigos da Interpretação Bíblica, de D.A. CARSON, Vida Nova; Aplicando
bem a Palavra, de Osiel Gomes da Silva, Doksa; Como estudar e Interpretar a
Bíblia, Raimundo Ferreira de Oliveira, CPAD; Hermenêutica, Curso Médio em
Teologia, IBADEP Etc.
A UNIDADE ORGÂNICA DA BÍBLIA
Não houve contato de um escritor com
outro para a formação da Bíblia. Tudo aconteceu em um processo divino e não
mecânico. Berkhof diz: “A Bíblia não foi feita, mas seu desenvolvimento foi
divino”.
Certamente que a unidade da Bíblia
foi um milagre, pois não existe discrepância em seus assuntos. Isso por um
único motivo: todas as suas partes foram produzidas pelo Espírito de Deus. Há
um conteúdo único na Bíblia: A pessoa de Jesus Cristo.
O pastor Osiel nos diz que sobre o
Aspecto progressivo das Escrituras, podemos dizer que se trata de um milagre
também, pois lemos sobre a redenção da humanidade por meio da semente da mulher
(Gn 3.15), que expressa a graça de Deus, passamos a entender daquilo que se
inicia e que se concretiza em Cristo Jesus.
Se pode ver também claramente a
autoridade e a unidade da Bíblia nas citações que diversos autores fizeram de
outros livros, ratificando assim sua inspiração e unidade (Rm 3.10; Ec 7.20;
Sal 14.2,3).
Os dois Testamentos
Dizia Agostinho: “O Novo Testamento
está oculto no Antigo, o Antigo está aberto no Novo”. Enquanto no Antigo temos
a promessa, no Novo se dá o cumprimento. O Antigo aponta a pessoa de Cristo, no
Novo Testamento tudo parte do próprio Cristo.
Se pode ainda ver outras diferenças
entre os dois Testamentos, pois o Antigo é profético, o Novo apostólico. No
Antigo Testamento os profetas eram influenciados pelo Espírito Santo, no Novo o
Espírito Santo está dentro de suas vidas.
PRINCÍPIOS DE INTERPRETAÇÃO BÍBLICA
A Bíblia não pode nem deve ser interpretada ao bel-prazer do leitor. Não
importa a sua cultura, para captar a mente de Deus e o que o Espírito Santo
ensina na Bíblia, se faz necessário seguir alguns princípios ou regras.
Vamos usar algumas regras elencadas pelo pastor Raimundo Ferreira de
Oliveira em seu livro Como Estudar e Interpretar a Bíblia, onde, antes de tratar
sobre elas, o autor faz uma séria recomendação dizendo:
“O estudante da Bíblia que, porventura, desprezar estas regras, pode
estar certo de que não só terá dificuldades na compreensão das Escrituras,
porém, mais do que isto: confundirá, sem dúvida, aqueles que porventura sejam
levados a ouvi-lo. E, uma coisa e não saber por não ter tido oportunidade de
aprender; outra coisa é continuar na ignorância por rejeitar o conhecimento
gratuitamente oferecido”.
REGRA UM
Estude a Bíblia partindo do pressuposto
de que ela é a autoridade suprema em questão de religião, fé e doutrina. Consciente ou inconsciente nós nos submetemos em matéria de religião, ou
a tradição, ou a razão, ou as Escrituras.
REGRA DOIS
Não se esqueça que a Bíblia é a
melhor intérprete de si mesma, isto é: A Bíblia interpreta a Bíblia. Mesmo sabendo disso, muitos leitores querem desprezá-la no momento de interpretá-la.
Não queira falar aquilo que a própria Bíblia não diz. Muitas vezes, com
lágrimas como disse Paulo, descobrimos que os maiores inimigos da Bíblia, não
são seus opositores que, em épocas
de perseguições, rasgaram-na e queimaram-na, mas, sim, um grande número dos
seus expositores, sempre prontos a
achar na Bíblia apoio para as suas ideais absurdas. Daí surgiu esse amontoado
de heresias existentes hoje em dia.
REGRA TRÊS
Dependa da fé salvadora e do Espírito
Santo para a compreensão e interpretação da Escritura. Sabemos que o diabo cega os olhos dos incrédulos, como disse Paulo em 2
Coríntios 4.4. Essa é a razão por que que aquilo que na Bíblia para o cristão
fiel brilha com grande fulgor do sol ao meio-dia, para o não crente é escuro
como a noite (1Co 1.18).
REGRA QUATRO
Interprete a experiencia pessoa a luz
das Escrituras, e não as Escrituras a luz da experiencias pessoal. Ao estudar as porções didáticas da Escrituras, você haverá de notar que o
Escritor não diz: “Porque tal coisa aconteceu, isto é verdade.” Em vez disso, afirma justamente o oposto:
“Porque isso é verdade, uma coisa particular aconteceu.” Por exemplo: O
Novo Testamento não ensina que, porque Jesus ressurgiu dos mortos, Ele é o
Filho de Deus. Antes, porque Jesus é o Filho de Deus, ressurgiu dos mortos.
REGRA CINCO
Os exemplos bíblicos só têm
autoridade prática quando amparados por uma ordem que os faça mandamento
universal. Exemplo: Noé plantou uma vinha e se
embriagou, não é um mandamento universal. Outro: Jesus Chamou Herodes de
raposa. Não significa que devemos afrontar as autoridades etc. Vamos tomar
outro exemplo da vida do próprio Cristo: Ele nunca se casou, mas isso não
significa que ele era contra o casamento, que esse sim é um mandamento
universal, e fica a critério do solteiro casal ou não.
REGRA SEIS
O principal propósito da Escritura é
mudar nossas vidas e não multiplicar nossos conhecimentos. (2Tm 3.16). Satanás conhece a Bíblia e é capaz de citá-la melhor que os
mais eruditos pregadores. Sem dúvida ele passaria nos exames de conhecimento
das Escrituras. Ele soube citar direitinho o Salmo 91.11,12 quando tentou a
Jesus. Deus não me quer um cristão teórico, apenas com o conhecimento, mas
sobretudo piedoso (1Co 8.1b). (A ilustração do professor Ludwig Kopfwissen)
REGRA SETE
Todo cristão tem direito e a
responsabilidade de interpretar pessoalmente as Escrituras, seguindo princípios
universalmente aceitos pela ortodoxia bíblica. Podemos lembrar dos tempos anteriores a Reforma, onde quem tinha
autoridade para interpretar a Bíblia era somente os clérigos da Igreja
Católica. Porém Lutero se insurgiu contra esse tipo de poder dizendo: “Se é
certo o artigo na nossa fé “creio na Igreja Cristã”, então o papa não pode
estar certo sozinho; do contrário deveríamos dizer: “creio no papa de Roma” e
reduziu a Igreja Cristã a um único homem, o que é uma heresia diabólica e
condenável. Além disto somos todos sacerdotes, como já disse, todos temos uma
fé, um Evangelho, um sacramento; como então não teríamos o poder de discernir e
julgar o que é certo ou errado em matéria de fé?”
Infelizmente, hoje em dia, muitos
cristãos brincam de ler a Bíblia. A um grande número de iletrados em matéria de
doutrinas bíblicas. Há uma pesquisa, que consta que muitos dos chamados
“doutores em divindade” da atualidade, que nunca leram a Bíblia toda. Por isso
somos uma geração de crentes virtual e espiritualmente doentes.
Na verdade, nem todas nossas
perguntas serão respondidas aqui desse lado da vida. Chegará um dia, que todas
os enigmas serão desvendados, como disse Paulo: “Porque, agora, vemos por espelho em enigma; mas, então, veremos face a
face; agora, conheço em parte, mas, então, conhecerei como também sou
conhecido” (1Co 13. 12).
REGRA OITO
Apesar da importância da história da
Igreja, ela não chega a ser decisiva na fiel interpretação da Escritura. Sabemos do grande valor da história para nós evangélicos atualmente.
Muitas questões foram resolvidas pelos pais da igreja, deixando um grande
legado para a posteridade. Vejamos:
a. No século II a Igreja lidava com a apologética
e as ideais fundamentais do cristianismo;
b. No século III e IV, com a doutrina de
Deus;
c. No século V, com o homem e o pecado;
d. Desde o século V até o VII, com a
pessoa de Cristo;
e. Nos séculos XI ao XVI, com a expiação;
f. No século XVI, com a aplicação da
redenção (justificação).
Logicamente
que não estamos falando de questões pequenas ou utopias. Conta-se que quando os
muçulmanos tomaram a cidade de Constantinopla, a grande fortaleza da Igreja no
Oriente, seus líderes, estavam reunidos discutindo se “a água benta”, após cair
uma mosca dentro dela, continuava benta ou não.
Apesar do reconhecimento da história
da Igreja, quando os crentes do passado se deram o penoso trabalho de sondagem
e interpretação das Escrituras, defendendo a integridade da doutrina cristã.
Mesmo reconhecemos a bravura e denodo com que os princípios sagrados foram
defendidos e mantidos, devemos afirmar que a Igreja não determina que a Bíblia
ensina; antes a Bíblia é que determina o que a Igreja ensina. Portanto, a
interpretação da Igreja só tem autoridade à medida em que esteja na mais
absoluta harmonia com os ensinamentos da Bíblia como um todo.
Nem a tradição devido aos anos, nem os mais renomados
teólogos, pelo acúmulo de conhecimento adquiridos, podem justificar ter a
última palavra no que concerne à interpretação das Escrituras. (assistimos na
semana passada o pregador neopentecostal, Benny Hinn, se desculpando pela falsa
interpretação dada a Palavra de Deus).
REGRA NOVE
O Espírito Santo quer aplicar as
promessas divinas, exaradas nas Escrituras, à vida do crente em todos os
tempos. As promessas que estão na Bíblia,
são meios pelas quais Deus revela sua vontade aos homens. Porém, reclamar
promessas pode ser algo subjetivo.
Devemos ter cautela ao reivindicarmos as promessas de Deus. A falta de
orientação, muitas vezes faz o crente querer tomar posse de promessas através
de meios que não são bíblicos. Quem já não viu aquele irmão procurando
promessas, de joelhos, de repente, coloca o dedo em algum lugar na Bíblia de
olhos fechados, e entende que ali está a promessa ou a direção de Deus. Não que
isso não possa ocorrer, mas não é regra, e sim exceção. Quem não lembra daquela famosa
estória, do irmão que abriu a Bíblia dessa forma, e o dedo parou em Mateus
27.5, que diz: “E ele, atirando para o templo as moedas de prata, retirou-se e
foi-se enforcar”. Ele fechou a Bíblia rapidamente, orou e abriu outra vez, e
parou em Lucas 10. 37, que diz: “... Vai e faze da mesma maneira”.
Não que
que as promessas feitas ao povo de Israel não tenha valor para o crente,
logicamente que tem. Está escrito que todas as promessas de Deus tem em Cristo
o sim e o amém (2Co 1.20). Como por exemplo: Se você está passando por
perseguições, e em meio a isto seja evado a orar pedindo orientação de Deus.
Enquanto ora, o Espírito Santo pode levá-lo a lembrar da promessa de Êxodo
14.14: “O Senhor pelejará por vós, e vós calareis”. Mesmo que originalmente
essa promessa foi dada a Moisés e aos filhos de Israel, quando diante das
afrontas de Faraó, o Espírito Santo a aplica com uma promessa feita diretamente
ao você, e desse modo você aquieta o coração, confiando nas promessas de Deus
(2Pe 1.3,4).
O PORQUÊ DAS ESCRITURAS
Deus tem se revelado através dos tempos por meio de suas obras, isto é,
por meio da Criação. Porém, na Palavra de Deus temos uma revelação especial e
maior. É dupla esta revelação; temo-la de duas maneiras: a) na Bíblia - A
PALAVRA ESCRITA; e b) em Cristo - A PALAVRA VIVA.
A Necessidade do Estudo das
Escrituras
A necessidade do estudo das Escrituras está implícita nos seguintes
textos: 1 Pedro 3.15; 2 Timóteo 2.15; Isaías 34.16 e Salmos 119.130. O estudo
destes versículos nos conduz a dois pontos de suma importância, que são: 1)
Porquê devemos estudar a Bíblia, e 2) Como devemos estudar a Bíblia; ambos
estudados a seguir.
1. Por quê devemos estudar a Bíblia:
a. A Bíblia e o manual do crente na
vida cristã a no trabalho do Senhor. Sendo a Bíblia o livro-texto do
cristão, é imperioso que este maneje-a bem para o eficiente desempenho de sua
missão.
b. A Bíblia alimenta nossa alma.
Não há dúvida de que o estudo da Bíblia Sagrada nutre e dá crescimento
espiritual ao crente. Ela é tão indispensável à alma, como o pão é ao corpo.
Ela é comparada ao alimento diário, porém, este só nutre o corpo quando é
absorvido pelo organismo. Bom apetite pela Bíblia é sinal de saúde.
c. A Bíblia é o instrumento que o Espírito
Santo usa nas suas batalhas. Se em nós houver abundância da Palavra de
Deus, o Espírito Santo terá o instrumento com que operar. É preciso meditar
nela. É preciso deixar que ela domine todas as esferas da nossa vida, nossos
pensamentos, nosso coração e assim molde todo o nosso viver diário. Em suma:
mister se faz ficarmos literalmente saturados da Palavra de Deus.
d. A Bíblia enriquece
espiritualmente a vida do salvo. Essas riquezas vêm pela revelação do
Espírito Santo, primeiramente. A pessoa que procurar entender a Bíblia somente
através da percepção intelectual, muito cedo desistirá disso. Só o Espírito de
Deus conhece as coisas de Deus.
2. Como devemos estudar a Bíblia
Se você deseja conhecer melhor a vontade de Deus para com a sua própria
vida e para com o destino da humanidade, é importante ler a Bíblia seguindo o
seguinte modelo:
a. Leia a Bíblia conhecendo seu Autor. Isto é de suprema importância. É a melhor maneira de estudar a Bíblia.
Ela é o único livro cujo Autor está presente quando você o lê. E você sabe: o
autor de um livro pode explicá-lo melhor que qualquer outra pessoa. Para
compreender este livro singular, não basta lê-lo apenas, necessário se faz
analisar detidamente as suas declarações. Façamos como Maria, que aprendia aos
pés do Mestre. Aos pés do Mestre ainda é o melhor lugar para se aprender.
b. Leia a Bíblia diariamente. Esta regra é excelente. Não basta assistir aos cultos, ouvir bons
testemunhos, assistir estudos bíblicos, e ler boas obras de literatura cristã.
É preciso a leitura bíblica individual, pessoal e diariamente. Assim como fazia
Israel quanto a colheita diária do maná, do crente diligente Deus requer o
estudo diário da Sua Palavra.
c. Leia a Bíblia com a melhor atitude
mental e espiritual. Isto é de capital importância para
o êxito do estudo bíblico. A atitude correta é a seguinte: a) Estudar a Bíblia
como a Palavra de Deus, e não como uma obra literária qualquer; b) Estudar a
Bíblia com o coração e em atitude de reverente devoção, e não apenas com o
intelecto. As riquezas da Bíblia são para os humildes que temem ao Senhor.
Quanto maior for a nossa comunhão com Deus, mais humildes seremos.
d. Leia a Bíblia com oração, devagar,
meditando na sua mensagem. Assim têm feito os servos de Deus
no passado, a exemplo de Davi e Daniel. O caminho a trilhar ainda é o mesmo. Na
presença do Senhor, em oração, as coisas incompreensíveis são esclarecidas. A
meditação aprofunda o sentido do que foi o estudo.
e. Leia a Bíblia toda. Há uma riqueza insondável nisso! É a única maneira de conhecermos a
verdade completa dos assuntos tratados na Bíblia, visto que a revelação de Deus
mediante ela é progressiva.
Que o Senhor nos ajude a entender
cada dia melhor a sua Palavra!