Um
dos grandes obstáculo que o crente tem em sua jornada como cristão, para ter
uma verdadeira paz interior, é o hábito de querer viver duas vidas: uma sagrada
e outra secular. Disse A.W. Tozer: “Se aceitarmos que essas áreas existem à
parte uma da outra, e que são moral e espiritualmente incompatíveis, e se, a
despeito disso, somos obrigados, pelas necessidades da própria existência, a
cruzarmos e entrecruzarmos constantemente uma área com a outra, nossa unidade interior tende a se desfazer, e
passarmos a ter uma vida dividida, em lugar de uma vida unificada”.
1. Os dois mundos do cristão. O
espiritual e o natural. Como filhos de Adão, vivemos nesta terra sujeitos às
limitações da carne e às fraquezas da natureza humana. “Miserável homem que
eu sou! Quem me livrará do corpo dessa morte?” (Rm 7. 24). Antagonicamente,
temos a vida do espirito, onde desfrutamos uma vida superior; somos filhos de
Deus; temos uma posição celestial “Portanto, agora, nenhuma condenação há
para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segunda a carne, mas segundo o
espirito” (Rm 8.1). Usufruímos de uma comunhão íntima com Cristo. Por isso
temos a tendencia de dividir nossa existência em duas dimensões. Mesmo que
inconscientemente reconhecemos um dualismo de procedimento.
a. A primeira, espiritual,
vivenciamos com alegria, porque sentimos que estamos agradando a Deus. São as
orações, a leitura da Bíblia, os louvores a Deus, os cultos, as visitações
evangelísticas, o círculo de oração, etc. Reconhecemos com estes atos, que
nossa casa não é aqui, é que esperamos uma cidade futura, chamada céu (Fil
3.20).
b. A segunda, secular, que abarca
todas as outras ações da vida cotidiana. Quer seja
crente ou não, precisam participar dessas ações: Comer, dormir, trabalhar, estudar,
cuidar das necessidades do corpo, enfim, realizar tudo aquilo que é rotineiro e
trivial da vida terrena. Pode até ser que como crente dizemos: Um dia deixarei
esse corpo terreno, e me dedicarei inteiramente ao Senhor, somente cantando
gloria e aleluias.
Esses dois mundos,
sacro-secular, muitas vezes incomoda e embaraça muitos cristãos. Vivem se equilibrando
nessa corda bamba, e finalmente não acham satisfação nem paz nem em um e nem
em outro. São crentes, ou cristãos, que passam a vida toda buscando encontrar a
perfeita vontade de Deus para a sua vida, e nunca encontram (Rm 12.2).
2. Existem de fato esses dois
mundo para o cristão? A resposta é não. A antítese sacro-secular não tem
fundamento nenhum no Novo Testamento. O que se faz necessário, é conhecermos
com mais profundidade a doutrina cristã.
a. Tomemos como exemplo a vida de
Jesus. Ele disse: “A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou e
realizar a sua obra” (Jo 4. 34). Jesus porém, comia, bebia, dormia,
trabalhava na carpintaria, ajudava os discípulos em suas tarefas, etc. Quer
dizer, ele viveu nesta terra na presença de Deus Pai, sem nenhuma tensão,
desde a sua infância até sua morte na cruz. O Pai aceitou a oferta de sua vida
inteira, e não fez nenhuma distinção entre uma ação e outro. Quer dizer: quando
jesus usava o serrote ele glorificava ao Pai, quando ele curava um enfermo, também glorificava o Pai. Olha o que o Filho disse do Pai: “E aquele que me
enviou está comigo; o Pai não me tem deixado só, porque eu faço sempre o que
lhe agrada” (Jo 8. 29). Se Jesus sofreu pressões e sofrimentos, foi por
causa de nossos pecados e não de incerteza moral ou desajuste espiritual.
b. O ensinamento de Paulo. “... fazei
tudo para a gloria de Deus” . Isso não é retórica e nem idealismo
religioso. Foi o que Deus revelou ao apóstolo Paulo para que seja cumprido
pelos homens. Está nas Escrituras, e é preciso que seja crido e vivido por cada
um de nós como a Palavra da verdade. “Toda Escritura divinamente inspirada é
proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em
justiça” (2Tm 3. 15). Então, abre-se diante de nós a possibilidade de que
todas as nossas ações sejam para a gloria de Deus. Veja que Paulo menciona duas
coisas das mais triviais da vida dos seres racionais e irracionais: comer e
beber. Até mesmo estas ações tão simples da vida, podem redundar para a gloria
de Deus. Não é nosso corpo que nos envergonha de Deus , mas sim, a corrupção, o
desregramento e o uso indiscriminado dos nossos instintos humanos que deveriam
nos dar vergonha de nosso Criador. As ações praticadas pelo corpo, quando
realizadas em pecado e contrárias à natureza, jamais poderão honrar a Deus.
Sempre que nossa vontade introduzir em nossos instintos alguma perversão moral,
eles deixarão de ser naturais e puros, como Deus os criou; em vez disso, serão
apetites desordenados, desenfreados e imorais, que nunca vão glorificar ao Pai
que é Santo.
c. Devemos dizer ao nosso corpo,
o que os discípulos falaram ao jumentinho: “O Senhor precisa dele” (Mc
11.3). Da mesma maneira que aquele humilde jumentinho levou Jesus, nosso corpo
mortal e efêmero também leva Jesus por onde quer que formos “E graças Deus, que nos faz triunfar em Cristo e, por
meio de nós, manifesta em todo lugar o cheiro do seu conhecimento” (2Co
2.14). “Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as
vossas boas obras e glorifiquem o vossa Pai que está nos céus” (Mt 5. 16).
Todas as coisas se tornarão sagradas quando entendermos isso.
d. Até as ações mais simples podem
glorificar a Deus. Devemos colocar em prática o princípio de realizar todo
trabalho, todas as tarefas diárias como um sacerdócio. Devemos entender que
Deus toma parte até nas situações mais insignificantes da nossa vida, quando
reconhecemos a Sua presença nelas.
e. Qual lugar é mais sacro e qual
lugar é mais secular. Muitos pensam que devem ter atitudes mais reverentes e
santas dentro de um templo religioso, não é mesmo? Quantos que dizem assim,
quando uma pessoa fala algo mais ríspido, ou uma palavra mal falada: Não vê que
você está na casa de Deus? Para o povo de Israel, que viveu 400 anos em meio ao
povo egípcio, e perderam a noção do sagrado, o Senhor precisou ensina-los com
símbolos, com o tabernáculo, com a nuvem, com o fogo, dias santos, vasos santos,
vestes santas, sacrifícios santos, e ofertas. Através desses símbolos, eles
aprenderam que Deus é um Deus santo. Deus não queria ensinar-lhes que objetos e
lugares eram santos, mas sim que Deus é santo (Ex 3.5).
·
Com a vinda de Jesus, tudo mudou. Aqueles símbolos ficaram
ultrapassados. Quando Cristo morreu na cruz, o véu do templo foi rasgado de
alto a baixo. Ficou aberto o santo dos santos a todos quantos ali quiserem
entrar pela fé (Hb 11.6; 10.19; Jo 4. 21,23,24). Mais tarde Paulo deu o grito
da liberdade, e declarou santos todos os dias, limpos todos os alimentos,
sagrado todos os lugares e aceitáveis a Deus todas as ações corretas (Fil 4.8).
·
Depois que o homem santificar ao Senhor seu coração, daí por diante não
fará mais nada como antes. Tudo quanto fizer será bom e aceitável a Deus, por
intermédio de Jesus Cristo. Para um crente assim, a própria existência é um
sacramento, e o mundo inteiro, um
santuário. Sua vida, em todos os aspectos, será um sacerdócio. Em tudo que ele
fizer, ouvirá as vozes dos anjos cantando: “Santo, santo, santo é o Senhor
dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória” (Is 6.3).
Mensagem
elaborada, a partir da leitura do livro, A Procura de Deus de A.W. TOZER.
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