Não tenho a mínima lembrança que tenhamos vivido um
tempo como este nas últimas seis décadas. Nem no mundo e muito menos na igreja (falando
de Brasil). De repente, lá da China, surge um vírus, que se torna pandemia,
atingindo o planeta terra e muda tudo. Coisas que somente víamos em filme de
ficção, começa a ser realidade. O pânico toma conta do mundo. Pessoas que
gostavam de abraçar, de se confraternizar, agora querem manter distância.
Decretos governamentais exigem que as pessoas fiquem em casa, usem máscaras,
façam uso do álcool em gel, mantenham distância de mais de um metro um do
outro. O comercio fecha, as fábricas param, os restaurantes já não funcionam
mais. Voos são cancelados. Ninguém entra e nem sai dos países, estados,
cidades, Etc.
Desde que o vírus chegou ao Brasil, a noticia é uma
só: covid19. Os meios de comunicação não falam outra coisa. Parece que outras
doenças deram trégua e não matam mais, agora é só corona vírus que mata.
Computam os mortos e os infectados pelo vírus mortal dia a dia.
E a igreja? A igreja mudou completamente sua liturgia.
Seu modo de cultuar. Agora, é o pastor com meia dúzia de músicos, um ou dois
irmãos dando suporte ao culto, e os demais em casa, assistindo pela televisão,
pelo celular, notebook, etc.
Pregadores pentecostais, acostumados a ouvir o barulho
de glorias a Deus e aleluias nas suas pregações, agora somente o silencio. Os
pregadores e cantores de agendas lotadas também passaram. Sabe aquela agenda
online? “Onde vou estar esta semana? Segunda, em tal lugar, terça, em tal
cidade, quarta, não sei aonde? Pois é, hoje se socorrem na live. Tem gente que
faz live até viajando. A ânsia por ser visto, ser acessado, receber like, se
tornou quase uma paranoia.
A igreja evangélica brasileira, vivia um tempo muito
parecido com a igreja de Laodiceia, sim, aquela Igreja do Apocalipse. Me perdoe
os amados pela franqueza. Líderes de igreja que diziam assim: “Rico sou, e
estou enriquecido, e de nada tenho falta...”, mas logo veio a voz do Senhor
dizendo: “...e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego,
e nu”. Triste isso não é mesmo? Porém, uma dura realidade! Realidade esta
que Deus não suportava mais. Realidade, que estava passando da hora de mudar,
e, apesar de todo caos que a pandemia está deixando no mundo, ela deixa também
um profundo momento de reflexão, principalmente para a igreja do Senhor Jesus
Cristo.
Uma reflexão sobre o que é de fato ser igreja do
Senhor Jesus. O que é ser povo de Deus. Precisamos fazer algumas perguntas para
nós mesmos: Será que estamos realmente cumprindo o nosso papel de igreja, como
sal e luz do mundo? O Evangelho que pregamos é mesmo o de Jesus, ou o nosso
próprio evangelho? Será que não estamos fazendo da casa de Deus uma casa de
negócios? Assim como no tempo dos sacerdotes, que Jesus pegou em um chicote, e
expulsou do templo es vendilhões, os cambistas, etc. Como o Dono da Igreja está
nos vendo nos dias de hoje?
Mas, as coisas não param por ai. Muitas igrejas haviam
se tornado currais eleitorais. O povo de Deus era vendido em tempos de eleições
como se vende gado na feira. Misericórdia Senhor! Propina, coisas espúrias e
coisas desse gênero corriam a soltas por ai. Isso é muito sério, e, certamente
cheirava mal às narinas de Deus. Sem falar no mau testemunho de muitas pessoas
no ministério. Homens que sem nenhum escrúpulo, mesmo vivendo em pecado, sobem
aos púlpitos para pregar e ensinar aquilo que não vivem, mas, pelo cargo que
ocupam estão ai nos holofotes. Quantos falatórios errôneos de obreiros. As
brigas pela internet. Os maus exemplos de cantores e pregadores famosos. A
mistura do santo, do sagrado com o profano. Os falsos avivalistas. Os
aproveitadores do rebanho. Pessoas que deixaram de trabalhar, mesmo alguns sendo
profissionais em alguma área secular; mas a obra rendia mais, com bem menos
esforço. Triste isso!
Digo isto, porque sempre quis ser um fazedor de tendas
como Paulo. Pelo meu desejo próprio, jamais receberia um centavo da igreja. Porém,
não foi essa vontade Deus para minha vida. Lembro-me, que ainda relutei por um
bom tempo, trabalhando durante o dia na vida secular, e, pregava as noites e
fins de semana. Porém, chegou o dia, que o Senhor me disse claramente, que ele
havia de me sustentar. Mas, o que vemos hoje em dia, são pessoas que abandonam
suas funções na sociedade, seu trabalho, e consequentemente suas fontes de
rendas, para “viverem pela fé”. Deve-se ter um grande cuidado ao tomar uma
decisão como esta! Deve ser fruto de muitos dias, meses e até anos de oração,
pedindo a direção de Deus.
Meus questionamentos são os seguintes: Como voltaremos
após essa paralização de trabalhos presenciais nos templos? O que vamos
valorizar mais? Será que aprenderemos a lição, ou será preciso ainda vir um
maior aperto? Quantos que não valorizavam a Escola Dominical, simplesmente
porque não tinha o glamour da reunião noturna. Quantos que se tornaram pastores
de gabinete, já não sentia, nem nutria o desejo pela visitação a uma ovelha
doente, ferida ou desanimada.
E os membros? Como voltarão? Conscientes do valor
pastoral, da mensagem de ensino da Palavra? Será que o pastorado será mais
valorizado? As reuniões no templo ganharão mais respeito de todos; pastor e
ovelhas? Quantos que aproveitavam os bancos e as poltronas dos templos para
colar seus chicletes mascados. Quantos que para ele, vir à igreja era um mero
passatempo, que nunca cultuavam a Deus, vinham ao templo, mas passavam o tempo
todo se levantado, indo ao banheiro, indo ao bebedouro, com o celular ligado,
mandando e recebendo mensagens. Quantos que aproveitavam a hora do culto para
seus namoricos. Como vamos voltar? Seremos melhores adoradores? Ouviremos a
Palavra com fome de verdade? Ou isso, será apenas nos primeiros dias, e, logo
será esquecido o tempo de isolamento social, de quarentena, de termos
sobrevivido a tudo isso, e voltaremos a mesma velha maneira de ser?
E nós, os pastores, estaremos com mais desejo de
cuidar do rebanho, ou vamos continuar na mesmice das festanças e gastanças do
dinheiro dos dízimos, com cantores e pregadores famosos, apenas para ajuntar
multidões. Como seremos? Valorizaremos mais o ser ou ter? O que de fato será
importante para a liderança? Quantos que estão mais preocupados com seus cargos
que com o rebanho. Jesus não nos chamou para cargos, mas sim para sermos
pastores de ovelhas. Jesus disse a Pedro: “... apascenta os meus
cordeiros... Apascenta as minhas ovelhas” (Jo 21. 15,16). Pedro aprendeu
bem a lição. Anos mais tarde ele escreveu aos presbíteros dizendo: “Apascentai
o rebanho de Deus que está entre vós, tendo cuidado dele, não por força, mas
voluntariamente; nem por torpe ganancia, mas de ânimo pronto; nem como tendo
domínio sobre a herança de Deus, mas servindo de exemplo ao rebanho” (1Pe
5. 2,3).
Amados, poderia escrever muito mais, porém, estas
coisas que escrevo agora, faço no intuito de levar a cada um de nós, sejam os
pastores ou membros das igrejas evangélicas, para um profunda reflexão sobre
nosso viver e fazer cristão, como sal da terra e luz do mundo. Não faço, como
se estivesse isento dessas reflexões para a minha própria vida como pastor e
também ovelha do pasto do Senhor, pois estou inserido nesse contexto hodierno
da Igreja de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
Vosso em Cristo
Pr Daniel
Nunes da Silva
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