Nasci
arminiano sem saber
Eu sou arminiano de nascimento, mesmo, muito antes de
saber o que era ser um arminiano. Nasci crendo que Jesus quer salvar a todos os
pecadores, mesmo sabendo que nem todos serão salvos. Mas a culpa não é do
Salvador, mas do homem que rejeita a tão graciosa salvação oferecida
gratuitamente por Deus. Por isso mesmo, eu não tinha nenhuma vocação para
seguir outra linha evangélica a não ser o arminianismo.
Versículos como: “Porque
Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo
aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16); “E dizia a todos: Se alguém quer vir após
mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me” (Lc 9.23);
“Vinde a mim, todos os que estais cansados
e oprimidos, e eu vos aliviarei” (Mt 11.28); “Que quer que todos os homens se salvem e venham ao conhecimento da
verdade” (1Tm 2.4); “Porque para isto
trabalhamos e lutamos, pois esperamos no Deus vivo, que é Salvador de todos os
homens, principalmente dos fiéis” (1Tm 4.10) e uma série de outros, me
davam base para crer no desejo de Deus em salvar o mundo inteiro de fato, e não
apenas para querer impressionar a todos e salvar alguns.
Outro fato que fez crer no desejo de Deus em querer
salvar a todos os homens, foi à figura do meu pai terreno. O meu pai, pastor
Sebastião Nunes da Silva, foi sem dúvida o melhor pai do mundo. E não é por se
tratar de meu pai não. Ele de fato era um mar de amor. Corrigia aos filhos, mas
sempre no intuito de velos acertarem o caminho que os levaria a vitória.
Pensava eu: Se meu pai, terreno, pecador, finito, tem todas essas
característica de bondade e desejo de ver todos seus filhos salvos, imagina
Deus, nosso Pai celeste! Cada vez mais me tornava um arminiano sem nunca ter
lido sobre Jacó Armínio.
Também
nasci pentecostal
Com três meses de idade, minha mãe já me levava para
as vigílias. Esses trabalhos eram realizados em barracões feitos de lonas e
madeiras no interior do Paraná. Por causa do frio, no chão se colocava serragem,
para ficar mais macio e quentinho para se ajoelhar. Cresci ouvindo barulhos de
gloria a Deus, aleluia, muitos louvores e línguas estranhas. Logo me apaixonei
pelo livro de atos dos apóstolos. Disparadamente o livro da Bíblia que mais li
em toda a minha vida. Desde muito cedo já falava em línguas concedidas pelo
Espírito Santo.
Arminianismo e pentecostalismo: uma mistura que desde
o principio da igreja deu muito certo. Pedro pensava que Jesus somente queria
salvar os judeus, até que teve a revelação no porto de Jópe (At 10.10-15,34-48).
Nessa leitura podemos aprender duas coisas simultaneamente: Que Deus quer
salvar a todos, e, que o salvo de qualquer nação pode ser batizado com o
Espírito Santo e falar em outras línguas.
Vendo
o arminianismo de perto
Quem foi Jacó Armínio? Holandês, de uma inteligência
rara e privilegiada e uma fé inabalável. Nasceu em 1560 e viveu até 1609.
Faleceu com 49 anos de idade, e, seu biógrafo relata que mesmo em meio a dores
agudas, ele não perdia a alegria de sempre. Na hora de sua morte, entregou seu
espírito a Deus, enquanto cada um dos espectadores exclamava dizendo: “Oh minha
alma, permita que eu morra a morte dos justos”. Armínio morreu, mas deixou um
enorme legado para as gerações futuras.
FAMILIARIZANDO
COM AS PALAVRAS
1.
Arminianismo.
Sinônimo de teologia arminiana. Não é um movimento, mas uma perspectiva acerca
da salvação. Não há uma sede do arminianismo, pois não está associado a nenhuma
organização. Sempre que for usado o termo arminianismo, significará aquela
forma de teologia que rejeita a eleição incondicional (e, principalmente a
reprovação incondicional), expiação limitada e graça irresistível. O
Arminianismo afirma que pelo seu caráter, Deus é compassível, possuindo amor
universal por todo o mundo e todos no mundo, e concedendo livre arbítrio
restaurado pela graça para aceitar ou rejeitar a graça de Deus, o que conduz a
salvação eterna ou a perdição eterna.
2. Arminiano. Aqueles que seguem a teologia cristã defendida por
Jacó Armínio. Há dois tipos de arminiano: Os arminianos de cabeça e os de
coração.
Os arminianos de Cabeça dão ênfase no livre arbítrio fundamentado na razão,
negam a depravação total do homem, e negam também a necessidade da graça
sobrenatural para a salvação. Tornaram-se pelagianos ou semipelagianos.
Os arminianos de coração são os originais, vindo de Armínio, de Wesley e dos
primeiros remonstrantes. Eles não negam a depravação total, e ensinam a
necessidade da graça primária, preveniente para a primeira boa vontade para com
Deus.
3. Sinergismo
evangélico. É a doutrina cristã de
que, através da graça preveniente, o homem, após ter o livre arbítrio liberto,
pode ser cooperante na salvação; quer dizer: pode escolher em aceitar ou
rejeitar a graça de Deus.
O sinergismo é uma doutrina que já era ensinada pelos pais da igreja. Orígenes de
Alexandria, que viveu no II e III Século da era cristã, considerava o processo
da salvação sinérgico, enfatizando a livre participação da pessoa humana e
também a total necessidade da graça de Deus na salvação. Para Orígenes, a graça
de Deus permite ao ser humano dar uma resposta, não coagida, mas sim espontânea
a salvação oferecida por Deus.
Quando falamos do sinergismo evangélico, é porque existe o sinergismo herético ensinado por
Pelágio da Grã-Bretanha, nascido em 350, que negava o pecado original, e
elevava de tal maneira as habilidades humanas, a ponto de ensinar que o homem
podia, por si só, viver uma vida de santidade completa.
Norman Geisler, em seu livro Eleitos, mas livres, escreve dizendo: “A graça de Deus opera sinergicamente com o
Livre Arbítrio. Isto é, a graça deve ser recebida para ser eficaz; Não há
quaisquer condições para que a graça seja dada, mas há uma condição para que
ela seja recebida – a fé. Em outras palavras, a graça justificadora de Deus
trabalha cooperativamente, não operativamente. A fé é a pré-condição para se
receber o dom da salvação” (P. 276).
4. Graça
preveniente – Graça que precede e
capacita os primeiros indícios de uma boa vontade para com Deus. William Burt
Pope dá-nos talvez a melhor e mais completa ideia da obra do Espírito através
da graça preveniente, definindo-a: “como
a única e eficiente causa de todo bem espiritual no homem: do começo, da
continuação e da consumação da religião na alma humana. A manifestação da influência
divina que precede a plena vida regenerada, não recebe nenhum nome especial na
Escritura, mas ela é descrita de tal maneira que garante a designação
usualmente dada a ela de Graça Preveniente”.
Roger E. Olson, em seu livro
Teologia Arminiana, Mitos e Realidades, escreve: “A graça preveniente é a doutrina arminiana essencial, que os
calvinistas também acreditam, mas os arminiano interpretam-na diferentemente. A
graça preveniente é simplesmente a graça de Deus convincente, convidativa,
iluminadora e capacitadora, que antecede a conversão e torna o arrependimento e
a fé possíveis” (P. 45).
5. Monergismo: Ao contrario do Sinergismo, o monergismo significa
principalmente que Deus é a única agencia determinante na salvação. Não há
cooperação entre Deus e a pessoa que está sendo salva. O grande problema dos
monergistas, que dizem que todas as coisas estão sob o rígido controle de Deus,
e é Ele que determina tudo de antemão, é explicar se foi Deus que fez que Adão
pecasse. Quer dizer, foi Deus o causador do pecado? Porque, se foi Deus o
causador do pecado, então Adão não tem culpa alguma, simplesmente ele fez o que
já estava determinado.
6. Remonstrantes:
Foram chamados de remonstrantes,
cerca de 43 teólogos, que após a morte de Armínio, apresentaram em 1610 para
uma conferencia de líderes da igreja e do estado em Gouda, Holanda, para
explicar a doutrina arminiana. O foco principal estava na doutrina da salvação.
Vou
repassar, assim como Roger Olson escreveu em seu livro, Teologia Arminiana,
mitos e realidades.
1. Que Deus, por um decreto
eterno e imutável em Cristo antes que o mundo existisse, determinou eleger,
dentre a raça caída e pecadora, para a vida eterna, aqueles que, através da
graça. Creem em Jesus Cristo e perseveraram na fé e obediência; e que, opostamente,
resolveu rejeitar os inconversos e dos descrentes para a condenação eterna (Jo
3.16).
2. Que, em decorrência
disto, Cristo, o Salvador do mundo, morreu por todos e cada um dos homens, de
modo que Ele obteve, pela morte na cruz, reconciliação e perdão pelo pecado
para todos os homens; de tal maneira, porém, que ninguém senão os fiéis, de
fato, desfrutam destas bênçãos (Jo 3.16; 1Jo 2.2).
3. Que o homem não podia
obter a fé salvífica de si mesmo ou pela força de seu próprio livre-arbítrio,
mas se encontrava destituído da graça de Deus, através de Cristo, para ser
renovado no pensamento e na vontade (Jo 15.5).
4. Que esta graça foi a
causa do inicio, desenvolvimento e conclusão da salvação do homem; de forma que
ninguém poderia crer nem perseverar na fé sem esta graça cooperante, e
consequentemente todas as boas obras devem ser atribuídas à graça de Deus em
Cristo. Todavia, quanto ao modus operandi desta graça, não é irresistível (At
7.51).
5. Que os verdadeiros
cristãos tinham força suficiente, através da graça divina, para enfrentar
Satanás, o pecado, o mundo, sua própria carne, e a todos vencê-los; mas que se
por negligencia eles pudessem se apostatar da verdadeira fé. Perder a
felicidade de uma boa consciência e deixar de ter essa graça, tal assunto
deveria ser mais profundamente investigado de acordo com as Sagradas
Escrituras.
Sendo assim, amados, nós mostramos para os amados
alunos, que de fato, Deus quer salvar a todos os homens, e que o plano de Deus
está em Cristo. Tudo em Cristo, tudo nele, e sem Ele não há salvação (At 4.12).