PREFÁCIO
Todos aqueles que compõem a centenária Igreja
Evangélica Assembleia de Deus devem combater a fragmentação em seu seio, e fazê-lo
em todos os sentidos, pois estamos na idade madura e, portanto, fazem-se
necessárias a coesão e a compactação, além de estarmos alicerçados em um só
pensamento. Logicamente, devemos também estar abertos a mudanças que tragam
maior consolidação e crescimento, qualitativo e quantitativo, porém sem
deixarmos que a nossa Igreja se torne uma colcha de retalhos. Quando digo colcha de retalhos é relembrando de uma
ação de minha mãe, que pegava aqueles restos de tecidos, que sobravam da
costura das roupas de todos os filhos (minha mãe criou nove) e, com a
finalidade de não perder nada, costurava pedaço por pedaço, construindo assim
uma bonita colcha de todas as cores: amarelo, verde, azul, branco, preto,
vermelho etc. Essa técnica fica bonita em uma colcha, mas, quando se trata da
Igreja do Senhor e da doutrina Bíblica, torna-se feia e impraticável.
Com muito cuidado, digo que, atualmente, há no
seio assembleiano uma mistura, tal qual aquela quando o povo hebreu saiu do
Egito: “E subiu também com eles uma
mistura de gente, e ovelhas, e vacas, uma grande multidão de gado” (Ex 12. 38);
“E o vulgo, que estava no meio deles,
veio a ter grande desejo: pelo que os filhos de Israel tornaram a chorar, e
disseram: Quem nos dará carne a comer?” (Nm 11. 4). Esse vulgo, ou
populacho misturado, fez com que, mais tarde, o povo tivesse saudades do Egito,
desanimando assim da caminhada para a terra prometida.
Uma grande mistura tem invadido os púlpitos de
nossa tão querida igreja Assembleia de Deus. Cada ministério, cada convenção, cada
campo, cada pastor está fazendo como bem quer. Quero dizer com isso que modismos
sem nenhuma base bíblica, copiados dos neopentecostais ou pseudo-pentecostais, estão eivando nossas igrejas. Se você andar
por esse Brasil afora, vai encontrar igrejas nossas que ungem carros, chaves de
carro, peças de roupas e, até mesmo, oram por uma fotografia. Vai encontrar
ainda pastores fazendo fila de pessoas para serem ungidas com óleo; irmãs com
um recipiente de azeite na mão, ungindo enfermos, casas, peças de roupas,
carros etc. Bom, há liturgia e costumes para todos os gostos, sem se importar
se há aprovação de Deus ou não. O que vale é se o povo está enchendo o templo,
e o pior, se a renda está boa. Vale tudo pelo dinheiro e a fama!
Encontramos um povo que lê pouco a Bíblia,
esbanja costumes extrabíblicos e, se tentarmos corrigi-los, dizendo que é
necessário estudar mais a Bíblia e dar mais lugar à Palavra de Deus que ao
fanatismo religioso, logo aparece alguém para nos chamar de crus e gelados. Mas isso não importa! Temos de bradar e alertar a Igreja
do Senhor sobre essas questões, pois, além de todas essas coisas que temos
salientado, ainda ouvimos as profetadas
no meio do povo de Deus, e, acredite se quiser: a maioria dos crentes prefere acompanhar
esses pseudoprofetas que seguir os
ditames bíblicos.
No âmbito ministerial também não temos coesão.
Enquanto em uma boa parte do Brasil a Igreja Assembleia de Deus, por meio de
seus pastores-presidentes, mantém os cargos eclesiásticos na seguinte ordem: diácono,
presbítero, evangelista e pastor, já ouvimos e lemos matérias em que já temos
apóstolos, diaconisas, pastoras etc. Seria de bom alvitre que se chegasse a um
consenso também quanto a isso e, assim, fechar as portas para tamanha
desigualdade de pensamento ministerial. Quem quiser ser assembleiano legítimo,
(digo assim porque há um grande número de Assembleias de Deus genéricas por aí),
terá de se submeter ao modelo de nossa Convenção Geral das Assembleias de Deus
no Brasil.
Posso dizer que esta escritura nasceu das
minhas preocupações diante de um quadro um tanto quanto difícil, em que densas
nuvens de desentendimento doutrinal e de outras ordens menos vitais, mas ainda
de grande importância para mantermos nossa identidade assembleiana, pairam
sobre a Assembleia de Deus no Brasil. Seria melhor ver outras pessoas copiando-nos
em suas igrejas que a Igreja mãe do pentecostalismo no Brasil estar tirando
fotocópias de modelos ou formatos doutrinários, ministeriais e litúrgicos por
aí.
O que escrevo tem como finalidade trazer em
seu bojo assuntos que, para alguns, podem ser corriqueiros, mas que são de suma
importância para a unidade do pensamento bíblico, litúrgico, pragmático,
comportamental, entre outros, para o obreiro da Igreja Evangélica Assembleia de
Deus.
Meu intuito, como obreiro que sou e congregado-membro
da Assembleia de Deus desde a meu nascimento, é contribuir para que falemos e
pensemos com unidade (1Co 1. 10) como Igreja do Senhor na face da terra, porém
com a peculiaridade de nossa denominação pentecostal que se iniciou em terras
brasileiras a mais de cem anos.
Daniel Nunes da Silva