HAMARTIOLOGIA
A DOUTRINA
SOBRE PECADO
Ez 18. 4
Quando
Deus terminou de fazer todas as coisas, disse que tudo tinha ficado muito bom
(Gn 1.31). Porque será então, que hoje temos tantas coisas que não são boas?
Qual a origem do mal? Como o pecado entrou no mundo? Essa pergunta será
respondida a luz da Palavra de Deus ao longo deste estudo.
No
entanto, é importante, dizer algo a mais sobre o pecado. Sabe-se que as trevas
são a ausência da luz, e, que o pecado algumas vezes é tratado com trevas,
porém, o pecado, e muito mais que ausência do bem. O pecado também é mais que
um defeito. É uma força ativa, perniciosa e destruidora. Tiago disse que: “..., e o pecado, sendo consumado, gera
morte” (Tg 1.15). O pecado consumado é aqui simbolizado como o pai, o
genitor do maior inimigo do homem, a morte, quer seja espiritual ou física.
A ORIGEM DO PECADO
1. O ambiente e
a possibilidade da tentação (Gn 2.
8-17). No lindo jardim do Éden, onde
Deus havia feito brotar toda sorte de árvores agradável à vista e boa para
comida. À alimentação ligada a visão, (Gn 3.6). A árvore da vida no meio do
jardim (Veja Ap 2.7; 22.2). Que serviria para que, do fruto dela comendo, o
homem teria vida eterna. E a árvore chamada da ciência do bem o do mal. Essa
árvore seria para que Deus pudesse provar a obediência do homem, pois Ele o fez
como um ser moral, capaz de optar livremente por amar e obedecer a Deus, ou por
desobedecer-lhe e não fazer a sua vontade (Dt 30. 15,19). Vejamos que Adão e
Eva tinham uma vida prazerosa, pois Éden significa prazer, paraíso, pomar. Adão
não precisava da árvore da ciência do bem e do mal para viver, pois ele tinha a
árvore da vida a sua disposição.
2. O agente da
tentação (Gn 3.1). A serpente foi a
encarregada de satanás, que já havia sido lançado do seu posto no céu, por ter
pecado contra Deus, para mediar a conversa maligna com Eva. (Ez 28. 13-17; Is
14. 12-15; Lc 10.18), por isso mesmo satanás ficou conhecido como a antiga
serpente (Ap 12.9). O diabo não vai aparecer como ele é para tentar, ele sempre
vai chegar com coisas bonitas, apetitosas e sobre tudo vantajosas, (2Co 2.11;
11.14). Cuidado com ele!
3. A sutileza
da tentação. O próprio Jesus falou
desse predicado distintivo da serpente (Mt 10.16). Aqueles que abrem a guarda
para ela, vão sendo arrastados pelos desejos e atos pecaminosos (2Sm 11. 1-4; 1Tm 6.9,10; Tg 1.14,15). Veja os passos que a serpente dá para derrubar o casal edênico. a) Ela
aproveita a solidão da mulher. Naquele momento Eva estava sozinha. b) Ela torce
as palavras de Deus (Gn 3.1 comparando com Gn 2.16, 17). Veja que ela conseguiu
deixar a mulher desorientada. A mulher responde que podia comer de todas as
árvores, mas da árvore que está no meio do jardim não era para comer. Ora, no
meio do jardim estava a árvore da vida, que eles poderiam comer sim (Gn
2.9;16).
4. Quando a
serpente faz a pergunta no versículo 1, lança uma tríplice dúvida no coração da
mulher: 1) Dúvida sobre a bondade de
Deus – Será que Deus está retendo alguma benção de ti? 2) Dúvida sobre a
retidão de Deus – “certamente não
morrereis” (Gn 3.4), isto é, Deus não pretendia dizer o que disse.
Porventura não é isso que estão tentando dizer com a teologia generosa: Deus
não vai lançar ninguém no inferno, porque Ele é muito bom, mas vejamos os textos
(Ez 18.4; Naum 1.3; Mt 6.29; 10.28). 3) Dúvida sobre a santidade de Deus – No
versículo 5 a serpente diz, com efeito: “Deus
vos proibiu comer da árvore porque tem inveja de vós. Não quer que chegueis a
ser sábio tanto quanto ele, de modo vos manter em ignorância. Não porque ele se
interessa por vós, para vos salvar da morte, e sim por interesse dele, para
impedir que chegueis a ser semelhante a ele”. Deus é santo, portando o
pecado da inveja não sobe ao seu coração (Lv 21.8; Sl 5.4; Is 6.3). Não atribuamos
a Deus nenhum pecado, como disse Tiago: “Ninguém,
sendo tentado, diga: De Deus sou tentado; porque Deus não pode ser tentado pelo
mal, e a ninguém tenta” (Tg 1. 13).
5. O pecado
levou o homem a culpa. Vamos analisar
as evidencias de uma consciência culpada. O homem e sua esposa viviam em um
estado de inocência. Segundo alguns comentaristas bíblicos, Adão e Eva, antes
da queda, estavam vestidos em uma auréola de luz, que demonstrava a comunhão
que tinham com o Criador. 1) “Então foram abertos os olhos de ambos, e
conheceram que estavam nus;” (Gn 3.7a). Essa expressão “foram abertos os
olhos”, indica esclarecimento milagroso ou repentino (Gn 21.19; 2R 6.17). O que
a serpente prometeu, de fato aconteceu, mas não como Adão e Eva esperavam. Em
vez de se tornarem iguais a Deus, um sentimento de culpa e medo entrou em seus
corações. A nudez física é um quadro de uma consciência nua e culpada. Aquela
vestimenta de gloria foi desfeita, e, agora sentiram que estavam nus. Ali
começou o conflito entre a carne e o espírito do homem (Gl 5.16; Rm 7. 14-24). 2) “...
e coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais” (Gn 3. 7b). A
auto justificação. Querendo dizer, eu mesmo posso resolver esse problema. O
homem acha que pode flertar com o pecado e sair ileso da situação. Ledo engano
(Gl 6.7). Somente uma veste feita por Deus poderia cobrir o pecado (Gn 3.21). 3) “E
ouviram a voz do Senhor Deus, que passeava no jardim pela viração do dia: e
escondeu-se Adão e sua mulher da presença do Senhor Deus, entre as árvores do
jardim” (Gn 3.8). A primeira coisa que o homem culpado faz é procurar
esconder-se de Deus. São duas coisas que o culpado gosta de fazer: Esconder e
disfarçar (Js 7.21; 1Rs 14.6; 22.30). Aquilo que parecia ser bom, revelou-se
como mau. A culpa a insegurança, o tumulto, o medo do juízo acompanham a
iniquidade (Sl 38.3,4; Is 57. 20,21; Rm 2.8,9; He 2.15).
6. O pecado
levou o homem a morte. (Rm 5.12,21;
6.16; 6.23; Tg 1.15). Na teologia paulina, o pecado entrou no mundo de forma
coletiva, através do pecado de Adão. Essa morte, não é somente no âmbito
físico, mas, muito mais na esfera espiritual, alma e espírito do homem (Ez
18.4; Mt 10.28). Veja que no versículo 6 Eva traça por si mesma suas metas a auto
realização. Uma visão prospectiva de enriquecimento material, estético e
mental, parecia incrementar a própria vida; o mundo continua a oferecer as
mesmas coisas (1Jo 2.16; Tg 4.4). “Tomou do seu fruto e comeu”. Simples ato,
tão penoso resultado. Vamos ver que esse ato se repete agora para nossa
salvação: “Tomai e comei” (Mt 26.26). Agostinho comenta a ameaça de
morte feita por Deus ao casal, dizendo: Se perguntar com qual tipo de morte
Deus ameaçou o homem..., se foi a morte física ou a espiritual, ou aquela
segunda morte, responderemos: Foi com todas (Ez 18.4; Hb 9.27; Ap 20.6). O
pecado faz que o homem queira se esconder de Deus: “...e escondeu-se Adão e
sua mulher da presença de Deus” (Gn 3. 8), (Face). Comparado a Ap 6.16 e
contraste com Sal 27.4; Ap 22.4.
A INSENSIBILIDADE DO PECADO
O
pecado leva o ser humano a um endurecimento de coração. Em Hebreus 3.13, o
escritor da carta disse: “Antes
exortai-vos uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama Hoje,
para que nenhum de vós se endureça
pelo engano do pecado”. Essa palavra endurecer vem da palavra grega
“sklerunein”. O adjetivo “skleros” pode ser usado para uma pedra que é difícil de
ser lavrada. Como metáfora, pode ser usado a um rei desumano, que trata com
dureza seus súditos. O pecado endurece o coração do homem. El Filipenses 1.9, o
apóstolo Paulo, ora pelos filipenses, para eles abundem, no que ele chama de “aisthesis”
= percepção sensitiva, quer dizer: uma qualidade do coração e da mente que é
sensível àquilo que está mal. Veja a sequencia do versículo 10: “Para que aproveis as coisas excelentes, para
que sejais sinceros, e sem escândalos algum até o dia de Cristo”.
Significa
dizer, que a pessoa que comete um deslize em sua vida espiritual, pela primeira
vez ele demostra um estremecimento e uma repugnância; se o ato se repete,
cometerá com mais facilidade; se insiste em cometer a ação maléfica, será para
ele uma coisa comum e normal. Significa dizer, que o pecado, pelo seu engano,
tornou esse coração insensível para detectar o mal. Será como se uma pessoa,
tivesse um membro do seu corpo, com problemas de sensibilidade, e chegasse um
ferro em brasas nele, e, mesmo o ferro em brasas estando queimando e destruindo
o membro, ele estaria insensível a tal ação.
A PALAVRA PECADO E SEUS ACOMPANHANTES
1. Hamartia
está relacionada a blasphemia (Mt
12.31). O significado básico de blasfêmia é insulto. O pecado é um insulto a
Deus. O pecado insulta a Deus, porque zomba de seus mandamentos, por colocar o “eu”
no lugar devido somente a Deus (Mt 22.37).
2. Hamartia
está relacionada com apate (He 3.13).
Apate é engano. O pecado é sempre enganoso, promete fazer o que não pode. O
pecado é sempre uma mentira. Um filósofo disse: “O pecado nunca pode trazer
felicidade, porque, entre outras coisas, deixa o homem com o constante temor de
ser descoberto” (Pv 14.34b). Todas as coisas estão nuas e patentes diante dos
olhos de Deus (Sl 139.12; He 4.13). “O primeiro enganado com o pecado é o
pecador que o pratica” (Pv 20.17).
3. Hamartia
está relacionada a epithumia (Tg
1.15). Epithumia é concupiscência, desejo, cobiça. Epithumia sempre deseja o
que não pode ser desejado. Até Aristóteles definiu epithumia como alguém que se
lança ao prazer, que segundo os estoicos, se trata do prazer além dos limites e
da razão. A concupiscência é uma cobiça ou desejo desenfreado por aquilo que
não me pertence, e, não deve pertencer. Quantos têm perdido a vida e a
salvação, perdido a liberdade, perdido família, etc. tudo em troca da cobiça
por coisas que não lhes pertenciam (Ex 20.17; Dt 5.21; 1Tm 6.9,10,11).
4. Hamartia e
igualada a anomia (1Jo 3.4). Anomia é
desobediência a lei. Anomia induz o homem fazer o que lhe bem parece. Faz que o
homem coloque seus interesses acima de seus deveres com seu próximo e de sua
obediência a Deus. A anomia é o desejo do homem em colocar o “eu” no lugar de
Deus, fazendo do homem o centro da vida (Antropocentrismo). Anomia é alguém
querer viver fora da lei, da lei dos homens e muito mais da lei de Deus (Rm 1.
28-32).
5. Hamartia é
igualada a adikia (1Jo 5.17). Adikia
é injustiça, iniquidade, mal. Adikia é, portanto o espírito pecaminoso que se
nega a cumprir seus deveres para com Deus e com os homens (Rm 13.1-7).
6. Hamartia
está ligada com prosopolepsia (Tg
2.9). Prosopolepsia é acepção de
pessoas. Acepção de pessoas, ao mundo, a vida e aos seres humanos em geral. Pecado
é aceitar e praticar as normas do mundo em vez dos princípios de Deus; julgar
as coisas como os homens veem e não como Deus vê. Segregação racial, cor da
pele, classes sociais, etc. (Cl 3.10,11; At 10.34,35).