O capítulo 15 do Evangelho escrito por João evangelista, será sempre de uma profundidade insondável de instruções espirituais. Temos nele por muitas vezes (cerca de treze vezes) o Eu de Jesus, aonde cada um deles é uma árvore de vida tão grande quanto o próprio Deus, carregadas de frutos de graça. Vamos dividir esse capítulo em três partes, ou melhor, nos três relacionamentos que do cristão: O relacionamento com Cristo, o relacionamento mutuo com os irmãos e o relacionamento com o mundo, mostrando em cada um deles como o cristão deve se comportar.
I. NOSSO RELACIONAMENTO COM CRISTO (vs. 1-11). Esses versículos nos ensina que esse é um relacionamento de:
a. Vida. “Eu sou a videira, vós os ramos” (v 5). A ligação é vital. Ou está ligado e vivo, ou desligado e morto. Cada ramo é feito partícipe da vida e natureza da videira. Ele disse: “Eu sou a videira”. Nele habita corporalmente toda plenitude de Deus, e, se estivermos nele teremos essa plenitude (Cl 2.9; 1Jo 5. 11,12). Vamos analisar com mais profundidade a palavra vida.
a.a. O quarto evangelho começa e termina com a vida (Jo 1.4; 20.31);
a.b. Estas palavras estavam continuamente nos lábios de Jesus (Jo 5. 24, 40; 10.10, 28; 14.6).
a.c. A palavra vida aqui é (zôê), aparece mais de trinta e cinco vezes, e o verbo viver (zên) mais de quinze vezes. Mas, o que João quer dizer com vida? Analisemos:
1. Ele quer dizer que vida é o contrario de destruição, condenação e morte (Jo 3.16). Há uma enorme diferença entre a ressurreição para a vida e a ressurreição para o juízo (Jo 5.29; Dn 12.2) - (preste atenção que todos os dois grupos há ressuscitar). Aqueles que Jesus dá vida, não perecerão jamais (Jo 10.28). Há algo em Jesus, que ele nos da segurança tanto nesta vida, como no porvir. Aqueles que não aceitaram a Jesus como Senhor e Salvador, não podem dizer que vivem! A pessoa que vive uma vida sem Jesus, ele não tem vida, ele apenas existe (bios) = vida como existência, porém não sabe o que é vida plena.
2. João estava certo que quem nos traz a vida é Jesus, porém, quem o autorizou a dar a vida foi o Deus Pai (Jo 6.27; 17.2;m1Co 3. 22,23).
3. Por varias vezes Jesus usa a palavra Vida Eterna (Jo 3.15,16; 5.24; 6.54). Essa palavra usada no Evangelho de João é aiônios. Está claro que não é simplesmente vida que não acaba jamais. Porque uma vida interminável poderia ser uma maldição terrível. Há pessoas que tiram sua própria vida terrena pensando em acabar com o sofrimento. Essa vida eterna será de muita qualidade. Quando Jesus oferecia aos homens vida eterna, estava convidando a todo mundo a entrar na mesma vida de Deus (Ap 21.10,11,22-27; 22. 3-5; 1Jo 3. 1,2).
b. Cooperação e grandes possibilidades (vv 5-7). Como se cuida de uma plantação de uvas. Os galhos da videira que não dão frutos são cortados e não servem para nada, pois são muito fibrosos, por isso mesmo servem apenas para acender fogo (Na Espanha se usa para isso). O crente que foi plantando em Cristo, ou dá fruto ou vai para o fogo (v.6). (Devemos por atenção, que todos são ramos, tanto os que dão frutos quanto os que não dão). Comparar com as dez virgens (Mt 25.1).
1. Tanto Cristo como o crente trabalha para produzir frutos que glorifiquem o Pai que está nos céus (Mt 5.16; Jo 15. 8). Há uma cooperação nesse sentido. Jesus provê a seiva e do crente aparecem os frutos (15.16; Mc 4.8; Rm 6.22; Fl 1.11). Sabendo todo crente, que quem opera todas as coisas é Deus (Fl 2.13). Portanto não há como o ramo gloriar em nada, a não ser em estar ligado na raiz da videira (Is 61.6; Jr 9.24;1Co 9.16).
2. “Estai em mim, e eu em vós” (v 4). Quem já provou toda a potencialidade dessas simples palavras? “...e eu em vós”. Ah irmãos, quando Jesus está de fato no crente, coisas que são impossíveis se tonam possíveis! (Jo 14.12) Ex. Pedro andando sobre as águas (Mt 14.28,29); Pedro e João Curando o coxo de nascença (At 3. 6,7); A sombra de Pedro curando (At 5.15,16). Jesus em nós significa Jesus em meio ao povo (Gl 2.20; 2Co 5.20).
c. Amizade e Sociedade. “Já vos não chamarei servos, porque o servo não sabe o que faz o seu Senhor, mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho feito conhecer” (Jo 15.15). Os gregos diziam que o escravo era uma ferramenta viva. Ele não sabia nada que passava na mente de seu Senhor. Tão pouco o senhor declarava nada ao seu escravo. Para os discípulos Jesus disse: “...tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho feito conhecer”. Jesus chama seus discípulos para serem seus sócios na difusão do Evangelho: “...eu vos escolhi a vós, e vos nomeei, para que vades e deis frutos” (v16).
1. Nomear aqui vem do verbo grego “athiteme”, que tem o significado de colocar sobre coisas, colocar no lugar apropriado, atribuir um lugar (1Co 12.18).
2. Colocar alguém em uma posição, ou ordenar fazer alguma coisa. Ex: Fazer de Abraão pai de muitas nações (Rm 4.17); Fazer de Paulo luz para os gentios (At 13. 47); Fazer dos anciãos de Éfeso bispos (At 20.27).
3. O Senhor nos constituiu, nos nomeou, nos colocou em uma posição de trabalho, sócio em seu empreendimento da salvação (1Co 3.9)
4. Cada crente se torna um sócio de Jesus nessa tarefa de levar o evangelho a toda criatura (At 11. 19-21; Mc 16.20; Jo 14.12). Veja bem que o sentido é que cada um de nós somo como um preposto do Senhor Jesus, fazendo as suas obras na terra. Ele disse “...a fim de que tudo quanto em meu nome pedirdes ao Pai ele vo-lo conceda” (Jo 15.16).
II. NOSSO RELACIONAMENTO COM NOSSO IRMÃO EM CRISTO (12-17).
Ao relacionarmos bem com nossos irmãos, estamos dando prova que estamos de fato ligados no mesmo tronco, na mesma raiz. Existem plantas que para produzirem frutos se faz necessário a polinização, que nada mais é que o relacionamento de pólen entre si. Há vários processos de polinização, como a entomofilia - (abelhas, moscas), cantarofilia – (Besouros), e, Anemofilia: através do vento, etc. Podemos dizer que entre os servos de Deus, quem faz essa polinização é o vento do Espírito Santo (At 2.2). Significa dizer que ninguém faz a obra de Deus sozinho, precisamos uns dos outros (2Tm 2.2; 4.9-11).
Vejamos como se desenvolve esse mutuo relacionamento:
a. Uma unidade de vida. A seiva de vida que passa pelo meu irmão, é a mesma que passa em mim (Sl 133; 1Co 1.10; Fp 3. 13-16). Dependemos da mesma fonte de poder (Jo 1. 12; Ef 1.19; 3. 14-16). Não existem duas cabeças para o corpo da Igreja, e sim uma, a saber: Cristo (Ef 1.22).
b. Uma unidade de amor. “Que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei” (v. 12). Isto é, amar com o amor de Deus. Como foi que Deus nos amou? Amou-nos com um amor imerecido (Rm 5.8); desprendido (Jo 3.16); e permanente (Jo 13.1). Deus nos amou primeiro (1Jo 4.19), portanto, se o amor de Deus está em nós, não vamos esperar ser amados, para amar, mas vamos amar primeiro nosso irmão (1Jo 4. 7-21). O amor é marca universal dos discípulos de Jesus (Jo 13.35).
A grande dificuldade dos cristãos não é o de dizer que ama a Deus, mas sim, dizer que ama o irmão. Jesus falou que o mandamento de amar o próximo é tão grande quanto o de amar a Deus (Mc 12. 30,31). O apóstolo Paulo assim escreveu: “A ninguém devais coisa alguma, a não ser o amor com que ameis uns aos outros: quem ama os outros cumpriu a lei” “Com efeito: não adulterarás; não matarás; não darás falso testemunho; não cobiçarás: e se há algum outro mandamento, tudo nesta palavra se resume: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo” “O amor não faz mal ao próximo. De sorte que o cumprimento da lei é o amor” (Rm 13. 8-10).
III. NOSSO RELACIONAMENTO COM O MUNDO (Jo 15. 18-27). Que mundo é esse que odiou a Jesus é odeia os seus servos? É o sistema econômico, político, cultural, tecnológico e religioso que determina o estilo de vida dos povos. Nesse mundo, os crentes são como Jesus: Estrangeiros em sua própria terra.
a. Porque o mundo odeia aos servos de Deus? (v. 18).
1. Porque primeiro aborreceu a Cristo e nós pertencemos a Ele (1Jo 3.13);
2. Porque já não pertencemos a esse mundo (Jo 17. 14; 1Jo 4.5,6);
3. Porque o mundo rejeitou as suas Palavras (v. 20);
4. Porque Cristo expos os pecados do mundo. Muita gente que hoje fala tão docemente o nome de Jesus, o rejeitaria se ele aqui estivesse em carne para falar a verdade aos seus ouvidos (Jo 3.19-20).
b. De que maneira um cristão pode se tornar mundano? Isso não acontece da noite para o dia, é paulatino, assim como foi na vida de Ló.
1. Começa na amizade com o mundo (Tg 4.4; 1Co 15.33; Sal 1.1);
2. De desenvolve no amor pelo mundo (1Jo 2.15-17);
3. Conclui na conformidade com o mundo (Rm 12.2).
c. Qual a postura do Cristão para com o mundo? Esse mundo, como já falamos, é um sistema organizacional, filosófico, político e religioso que se opõe ao nosso Senhor Jesus Cristo, diante do qual devemos tomar algumas atitudes, quais sejam, de:
1. Separação (v. 19). “... porque não sois do mundo” O mundo jaz no maligno (1Jo 5.19), porém, o povo de Deus foi escolhido do mundo para ser seu tesouro particular (Dt 7.6-8).
2. Oposição (v.19). “... por isso o mundo vos aborrece”. No tempo que João escreveu, bastava dizer que era cristão para ser condenado. Basta ser discípulo somente de Jesus para ser odiado pelo mundo (1Jo 3.1; He 12. 1-4).
3. Testemunho (v. 27). “E vós também testificareis, pois estivesses comigo desde o princípio”. Ele disse: “Ser-me-eis testemunhas” (At.1.8). Ser testemunha fiel até a morte (Ap 2.10). Devemos dar testemunho de Jesus para esse mundo perdido. Pregar o evangelho com a nossa vida, com nosso testemunho, com nossas ações, com nosso modo de viver, com nossa postura: na família, igreja e sociedade. O mundo precisa ver a diferença em nós (Mt 5.16). Amém.