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domingo, 17 de março de 2013

Jornalista argentino publica documento que indicaria conivência de papa na ditadura

O jornalista argentino Horacio Verbitsky voltou a publicar ontem no diário "Página 12" cópia do documento que, a seu ver, "termina com a discussão sobre o papel de (Jorge Mario) Bergoglio" no episódio do sequestro e tortura por parte do regime militar argentino, em 1976, dos padres Orlando Yorio (morto em 2000, aos 67 anos de idade) e Francisco Jalics. O documento é uma das peças principais do livro "O Silêncio", que Verbitsky lançou em 2005 e no qual acusa Bergoglio de haver delatado Yorio e Jalics aos militares, por envolvimento com a guerrilha. Trata-se de uma nota de 1979 assinada pelo então diretor de Culto Católico da Chancelaria argentina, Anselmo Orcoyen, na qual se registra que Bergoglio fez formalmente um pedido para a renovação do passaporte de Jalics, instalado na Alemanha, após sua soltura pelo regime militar. Ele e Yorio haviam sido torturados na Escola de Mecanica da Marinha e ficaram cinco meses em poder dos militares. No entanto, ao protocolar o pedido, Bergoglio fez verbalmente "especial recomendação" para que ele fosse negado, abastecendo o ministério com informações desabonadoras sobre Jalics, incluindo a suspeita de seu "contato com guerrilheiros". A reportagem de Verbitsky responde diretamente à declaração feita nesta semana pelo porta-voz do Vaticano de que uma publicação de esquerda argentina conduz uma campanha "anticlerical difamatória e caluniosa", com ataques sistemáticos a Bergoglio. "Bergoglio e seu porta-voz calam sobre esses documentos e preferem desqualificar quem os encontrou, preservou e publicou", afirma o jornalista. No texto, Verbitsky cita a afirmação feita por Jalics nesta semana de que está reconciliado com Bergoglio e recorre a um teólogo para definir a reconciliação, "um sacramento católico", como "o perdão de coração ao próximo pelas ofensas recebidas". Em 1994, Jalics escreveu no livro "Exercícios de Meditação" que um representante da "extrema direita" católica via "com maus olhos" o trabalho que ele e Yorio desenvolviam junto às populações carentes e os havia denunciado como "terroristas" aos militares. Numa carta escrita em 1977 a uma autoridade da Companhia de Jesus, Yorio nomeia Bergoglio como o suposto delator. Ainda em seu livro, Jalics diz ter tido acesso a 30 documentos que comprovariam a atuação do delator e conta que os destruiu em 1980. "Desde então sinto-me verdadeiramente livre e posso dizer que perdoei de todo o coração", afirma, em trecho reproduzido ontem por Verbitsky. Roberto Rossellini (Diretor)

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