FECHAMENTO DAS CONVENÇÕES
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O artigo “Centenário paralelo, uma afronta a Belém”, que escrevi terça-feira passada neste jornal, causou muita discussão. Em questão de horas, o texto circulou o Brasil, merecendo elogios e críticas. E, talvez por não estarem familiarizados com o meu estilo literário, alguns receberam a palavra como algo parcial. Hoje pretendo pôr abaixo essa interpretação, demonstrando ao leitor sensato que minha análise é apenas de cunho bíblico e histórico.
Quando chega ao seu primeiro centenário, a Assembleia de Deus diverge muito de suas origens. Não diverge enquanto culto e congregação. Diverge quanto ao tipo de poder que foi instalado entre seus líderes. No princípio, foi a Missão da Fé Apostólica, uma comunidade de pessoas humildes, despojadas de qualquer influência política, econômica ou financeira.
Foi à míngua do poder temporal que a Assembleia de Deus nasceu e se expandiu nas primeiras décadas. Daniel Berg, Gunnar Vingren e os dezenove irmãos pioneiros não tinham nada humano para se escudar. Eles haviam sido desligados da Igreja Batista, acusados de heresia. Não tinham dinheiro, templo, mídia, pastores importantes... nenhuma prata ou ouro. Não tinham credenciais de convenção. O que eles tinham, então? Eles tinham a Jesus Cristo. E foi o nome de Jesus que pregaram. Unicamente por amor ao Mestre.
No assentamento das bases do movimento pentecostal brasileiro, tivemos muito sangue, suor e lágrimas. Jovens deixaram suas nações para se ajuntarem aos primeiros crentes. Devotados evangelistas, leigos e ordenados, embrenharam-se na densa floresta amazônica. Cruzaram a pé enormes distâncias. Transpuseram cachoeiras. Naufragaram. Adoeceram. Escaparam de emboscadas e feras. Enfrentaram todo tipo de perigo. Contam-se entre esses heróis alguns velhos que morreram vítimas de espancamento em pleno culto e pregadores estrangeiros que jamais regressaram às suas terras, a exemplo do missionário Viktor Janssen, que, vítima de malária, terminou seus dias sepultado numa cova rasa na ilha do Marajó, ano de 1923.
Porém, com o crescimento da obra de Deus pentecostal, surgiram os dominadores do rebanho. Surgiram homens cujo ministério é em si mesmo uma causa de perdição. Sim, porque há homens que não prestam para liderar. Eles poderiam servir como excelentes crentes de bancos. Estariam a salvo e sem escandalizar o nome de Cristo.
A partir da criação de convenções dentro da Assembleia de Deus, operou-se uma mudança de curso e qualidade no tipo de poder dentro dessa igreja. Muito embora sua membresia continue até hoje interessada no mesmo poder original que batizou Celina Albuquerque, no dia 8 de junho de 1911, grande parte da liderança da Assembleia de Deus organizada em convenções volveu seus olhos para outro tipo de poder: o poder temporal. Poder de império. Poder político-eclesiástico. Político-partidário. Poder comercial. Poder de reunir crentes. Poder humano. Vaidoso. Arrogante. Divisor. Antibíblico.
A Assembleia de Deus merece um presente em seu Centenário. E seu almejado presente é ver-se livre do jugo de convenções de pastores que em nada contribuem para a unidade dos crentes e à pregação do Evangelho. Seu desafio é voltar a lidar e reportar-se, única e tão-somente, ao poder do Espírito Santo.
Em vindo a Belém a liderança de convenções da Assembleia de Deus que escandalizam, espera-se que deem a essa igreja o maior de todos os presentes: devolvam a sua liberdade. Devolvam a sua paz e sua honra pública. Que venham à terra da Missão para anunciar o fechamento definitivo desses inferninhos pentecostais.
Rui Raiol é escritor (www.ruiraiol.com.br)
Jornal O Liberal, terça-feira, 17 de maio de 2011.
FONTE: www.adbelem.org.br
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